segunda-feira, 24 de novembro de 2025

♫Querida♫

Muitos enaltecem o Tom Jobim compositor e o exuberante músico. Mas, poucos percebem que Tom também é um grande cantor. E isso se verifica, por exemplo, em um das suas últimas gravações, uma das minhas preferidas dele: Querida. Essa canção foi tema de abertura da novela O dono do mundo, que usava cenas de Charles Chaplin, enquanto a canção tocava. Mas, nem a posso enquadrar na série temas inesquecíveis de novela, pois, para mim, a canção foi maior que a abertura e/ou a novela que não me seduziu tanto.

Talvez, pelo arranjo, pelos vocais, pela levada, pela letra, por tudo junto, me faz colocar essa (que nem é considerada clássica de seu repertório), como uma das melhores e das que mais gosto de cantar. Imagino que nem todos a classifiquem assim, por isso não foi regravada por outros nomes, ou então, ficou tão a marca do Tom que, ninuém se atreveu a mexer nessa interpretação. Uma canção de amor que grita a saudade de quem espera, de quem observa as coisas da vida, enquanto em seu mundo interior só brilha mesmo a presença tão desejada de sua querida, bandida, fingida,...

Querida
Tom Jobim

Longa é a tarde, longa é a vida
De tristes flores, longa ferida
Longa é a dor do pecador, querida

Breve é o dia, breve é a vida
De breves flores na despedida
Longa é a dor do pecador, querida
Breve é a dor do trovador, querida

Longa é a praia, longa restinga
Da Marambaia à Joatinga
Grande é a fé do pescador, querida
E a longa espera do caçador, perdida

O dia passa e eu nessa lida
Longa é a arte, tão breve a vida
Louco é o desejo do amador, querida, querida
Longo é o beijo do amador, bandida
Belo é o jovem mergulhador, na ida
Vasto é o mar, espelho do céu, querida, querida
Querida

Você tão linda nesse vestido
Você provoca minha libido
Chega mais perto meu amor bandido
Bandida, fingido, fingida, querido, querida

Um forte abraço a todos!

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

CD 30 anos da Jovem Guarda volume 5

Em nossa última postagem sobre as coletâneas lançadas há 30 anos, quando se comemorava 30 anos de Jovem Guarda, abordamos o quinto volume, com Os vips cantando A volta, Sivinha com Splish splash e Wanderléa com Eu já nem sei. Na sequência, Golden boys com Alguém na multidão e Wanderley Cardoso com o seu Bom rapaz.

Temos ainda Lacinhos cor-de-rosa com Lilian, O ciúme com Deny e Dino e Wooly Bully com The fevers. E mais clássicos da época em Namoradinha de um amigo meu com Jerry Adriani, Vá embora daqui com Marcos Roberto e O escândalo com Renato e seus blue caps. O tremendão Erasmo Carlos também aparece com um clássico do finalzinho da época, mas que marcou toda a música brasileira: Sentado à beira do caminho.

Por fim, temos Veja se me esquece com Dori Edson e Quero que vá tudo pro inferno, com todo o elenco que participou do projeto 30 anos da jovem guarda. Foi bastante interessante abordar parte daquelas tardes de domingo com seus clássicos revividos na década de 90, com uma sonoridade atualizada e algumas surpresas, que tornaram ainda mais esse momento inesquecível em nossa música nacional!

Um forte abraço a todos!

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Livro A canção no tempo volume 2

Finalizei a leitura do livro A canção no tempo volume 2, de Zuza Homem de Mello e Jairo Severiano. Recentemente comentei sobre o volume 1, que aborda a música do início do século até 1957. Este segundo volume me despertou mais interesse e quase começo por ele, por abordar a época que mais aprecio: 1958 a 1985. Até lamentei não termos um terceiro volume, ao menos que falasse de 1986 até 2010, mas seus autores já não estão entre nós e, mesmo as duas edições tendo sido lançadas em 1998, não demonstraram interesse em uma continuação, julgando terem abordado o que mais importa na música do século passado nestes dois volumes.

Como no volume 1, destacou algumas canções que julgaram mais representativas, explicando em breves comentários a importância e o alcance de cada uma. Além disso, uma lista de outros sucessos daquele ano, tanto nacionais, quanto internacionais, explicando um pouco sobre a história cultural do país que respira neste período a Bossa nova, a Jovem Guarda, a Tropicália, os Festivais, o Clube da esquina, o Rock nacional dos anos 80, Grandes sambistas, entre outros. É possível que alguém, assim como eu, sinta falta de tal canção ou citação de artista ou banda desta época, mas não é discutível dizer que estamos falando do período mais rico de nossa música nacional.

Depois de lido os dois volumes compreendo melhor a importância de ter visto logo o primeiro, para entender a sequência do segundo volume que aborda meus artistas favoritos: Tom, Vinícius, vários Joãos, Chico, Caetano, Gil, Ivan, Roberto, Erasmo, Paulinho, Gal, Bethânia, Rita, Simone, Elis, Milton, Tim, Fagner, Lulu, Fábio, Roupa nova, etc. A pesquisa para os dois livros começou em 1986 e se limitaram até o ano anterior, não considerando relevância no que aconteceu nos 12 anos seguintes, o que poderia proporcionar um terceiro volume. Fato lamentável, mas que não arranha a importância histórica destes valiosos trabalhos!

Um forte abraço a todos!

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

♫Clube da esquina nº 2♫

Algumas canções por si já dizem tudo. Outras ainda alcançam a genialidade de, em uma frase dizer tudo. Há ainda outras que em várias frases dizem tudo. Essa canção foi feita pelo Milton lá em 1972 apenas com sua bela melodia. Anos mais tarde, a pedido de Nana Caymmi, Lô e Márcio Borges colocaram letra e, simplesmente, temos um clássico e um mantra! Conste que existe outra canção dos mesmos autores com o título Clube da esquina e, por isso, nesta temos o "nº 2".

De fato, a melodia é bela, triste, melancólica, sempre me remete a solidão de um fim de tarde numa praia calma. E a letra aborda uma época de repressão da ditadura militar, destacando a resistência e a força do ser, a necessidade de não desistir de seus sonhos, das lutas de tantos que habitam as cidades e que precisam apenas crer na força interior e seguir na batalha dessa estrada de incertezas que é a vida. Adoro a interpretação dada pelo Flávio Venturini e, claro, as de Milton, sobretudo pelos seus impecáveis vocais. Quando fiz essa postagem não imaginei que hoje nos despediríamos do Lô, a quem, modestamente, prestamos nossa homenagem e nosso agradecimento por tamanha obra!

Clube da esquina nº 2
Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges

Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço, aço, aço...

Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos, calmos...

E lá se vai mais um dia...

E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração na curva
De um rio, rio, rio, rio, rio...

E lá se vai mais um dia...

E o rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio-fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente, gente, gente...

E lá se vai mais um dia...

Um forte abraço a todos!