As canções do Roberto são sempre marcantes em qualquer época do ano. Esta, por exemplo, é um clássico dos anos 70. Imortalizada pelo rei, regravada de forma inusitada pelo Titãs, pelo Erasmo em dueto com Kid Abelha e por Zezé di Camargo e Luciano, imagino que poucos ousam retocá-la por ter muito do Roberto ali. Eduardo deu uma belíssima versão instrumental a ela. Aliás, esta é talvez o melhor exemplo para ilustrar como a dupla Roberto e Erasmo compõem, imaginando voltar, encontrar o cachorro, o retrato, uma recepção, cenas que vão no ápice da emoção de quem já foi e voltou.
A letra de O portão é muito profunda: fala de alguém que resolve voltar, que reconhece seus possíveis erros, que sente saudades daquilo que julgava tão comum e talvez tão sem importância. Um retrato na parede amarelado pelo tempo quase reclama a ausência. Mas, o que mais marca mesmo e arranca um punhado de lágrimas são os dois braços abertos na recepção, algo muito raro de se acontecer na prática, mas na imaginação e no cineminha dos dois Carlos, esses nobres sentimentos sempre receberão tratamento vip, digno de um "Óscar".
O portão
Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Eu cheguei em frente ao portão
Meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão
Eu voltei
Quase nada se modificou
Acho que só eu mesmo mudei
E voltei
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei
Mas deixei a luz entrar primeiro
Todo o meu passado iluminei
E entrei
Meu retrato ainda na parede
Meio amarelado pelo tempo
Como a perguntar por onde andei
E eu falei
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei
Se havia alguém à minha espera
Passos indecisos caminhei
E parei
Me abraçaram como antigamente
Tanto quis dizer e não falei
E chorei
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei
Meu cachorro me sorriu latindo
Um forte abraço a todos!