E neste domingo de carnaval chegamos com um samba moderno, dos mais geniais, do Sr. Chico Buarque, em parceria com o Sr. Francis Hime, lá de 1984, Vai passar. Tão atual quanto a situação caótica que o país passa e parece que o tempo mesmo é que não passou porque a letra se identifica exatamente com os tempos atuais, mesmo citando acontecimentos da época da ditadura.
Como um desfile de escola de samba, Vai passar cita passagens da história do país num enredo não muito luxuoso, mas autêntico. São citadas coisas grandiosas como grandes sambas, ancestrais, uma pátria adormecida, o exílio, a volta, o carnaval. Saudando o fim da ditadura e a esperança que pairava naquele tempo, sinto que hoje precisamos de uma renovação nessa esperança. Precisamos beber deste sentimento que saudou um novo tempo que parece que ainda não chegou. Hoje, se nosso país entrasse na avenida, com toda essa politicagem e o povo sendo enganando, a bateria não seria tão afinada, o enredo seria triste e nosso carnaval acabaria antes da quarta de cinzas.
Vai passar
Chico Buarque e Francis Hime
Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade
Essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos
Erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)
Palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Um forte abraço a todos!
Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade
Essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos
Erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)
Palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Um forte abraço a todos!