terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Os compositores do Brasil - 11

As série Compositores do Brasil traz hoje, talvez o maior compositor de todos os tempos, ou ao menos o maior de seu tempo: Noel de Medeiros Rosa. Dez a cada dez compositores brasileiros reconhecem seu talento e sua contribuição imensurável na música brasileira. E curioso é que o carioca Noel viveu pouco, apenas 26 anos, mas teve uma obra criativa fantástica, unindo o samba do morro ao do asfalto.

Noel foi um garoto de classe média e na adolescência aprendeu a tocar bandolim e posteriormente violão, sempre "tocando de ouvido", ou seja, sem aulas. Tentou o curso de Medicina, mas seduziu-se pela música. Suas noitadas de boemia renderam participação em vários grupos, entre eles o Bando dos Tangarás, do qual também participou João de Barro, o Braguinha. Em 29, arriscou suas primeiras composições: Minha viola e Toada do céu.

Mas, foi em 1930 que veio o sucesso com a canção Com que roupa?, que atravessa décadas como algo irreverente e um samba dos mais refinados. E foram mais de trezentas composições nesse curto espaço de vida artística ( até 1937), como algumas que se tornaram clássicos de nossa música e atravessaram o tempo de forma sempre atual: Conversa de botequim, Feitiço da Vila, Feitio de oração, Fita amarela, Palpite infeliz, Pra que mentir, Dama do cabaré, Pierrô apaixonado e tantas outras interpretadas por Francisco Alves, Mário Reis e Aracy de Almeida que visitaram sua obra constantemente.

Noel foi um artista a frente de sua época e um simples post como esse é ínfimo diante de sua oferta e memória musical. Entretanto é importante saber que há mais de um século que nossa música é, sem sombra de dúvidas, a melhor do mundo e não é pretensão pensar assim pois pessoas como Noel Rosa estão aí para provar essa "atrevida" frase!

Um forte abraço a todos!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A janela

Domingo é dia de letra de música brasileira. E hoje abordaremos a temática casa x família. Muitos de nós já tivemos vontade de sair de casa, de nos aventurarmos pelo horizonte em busca de nossos ideais, de nossa tão sonhada liberdade.

É o que nos traz essa canção de Roberto e Erasmo, gravada pelo rei em 1972 e tão atual, nos pondo em confronto de gerações com nossos pais, com nosso lar, com nossa maneira de buscar e pensar nosso futuro. E ao refletir sobre essa letra tão fantástica, tão decisiva, tão completa, só posso pensar: Meu Deus, que bom que o Roberto é um dos mais afinados instrumentos do mundo em termos de afinação divina!

À janela
(Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

Da janela o horizonte
A liberdade de uma estrada eu posso ver
O meu pensamento voa livre em sonhos
Pra longe de onde estou

Eu às vezes penso até onde essa estrada
Pode levar alguém
Tanta gente já se arrependeu e eu
Eu vou pensar, eu vou pensar

Quantas vezes eu pensei sair de casa
Mas eu desisti
Pois eu sei lá fora eu não teria
O que eu tenho agora aqui

Meu pai me dá conselhos
Minha mãe vive falando sem saber
Que eu tenho meus problemas
E que às vezes só eu posso resolver

Coisas da vida
Choque de opiniões
Coisas da vida, coisas da vida...

Novamente eu penso ir embora
Viver a vida que eu quiser
Caminhar no mundo enfrentando
Qualquer coisa que vier

Penso andar sem rumo
Pelas ruas, pela noite sem pensar
No que vou dizer em casa
Nem satisfações a dar

Coisas da vida
Choque de opiniões
Coisas da vida, coisas da vida...

Penso duas vezes me convenço
Que aqui é o meu lugar
Lá fora às vezes chove
E é quase certo que eu vou querer voltar

A noite é sempre fria
Quando não se tem um teto com amor
E esse amor eu tenho mas, me esqueço
Às vezes de lhe dar valor

Coisas da vida
Choque de opiniões
Coisas da vida, coisas da vida...

Tudo tem seu tempo
E uma vida inteira eu tenho pra viver
E nessa vida é necessário a gente
Procurar compreender

Coisas que aborrecem
Muitas vezes acontecem por amor
E esse amor eu tenho esquecido às vezes
De lhe dar valor

Coisas da vida
Choque de opiniões
Coisas da vida, coisas da vida...

Um forte abraço a todos!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Os eternos Trapalhões...

Há algum tempo que desejo destacar esses lançamentos. Embora seja um Blog de música, gostaria de destacar àqueles que ainda não sabem que os filmes dos trapalhões estão nas lojas, por preços acessíveis. Didi, Dedé, Mussum e Zacarias fizeram a alegria de minha e de muitas infâncias país afora.

E não podemos dissociá-los da música, pois nem todos perceberam, mas grandes nomes brasileiros participaram da trilha de diversos filmes dos trapalhões, que foram campeões de bilheteria em um tempo em que o cinema nacional tinha pouquíssimo investimento. Cantores como Lenine, Ney Matogrosso, Rita Lee, Jorge Aragão, entre outros participaram da trilha sonora de filmes que marcaram a infância e juventude de muitos que não viviam sem aquelas atrapalhadas ingênuas.

Em 1981, o quarteto lançou o filme que seria o campeão de bilheteria. Com repertório de Chico Buarque, fizeram uma adaptação de uma de suas mais famosas peças e lançaram Os Saltimbancos trapalhões, esse em destaque na imagem. Outros títulos entraram para a história do cinema nacional como As minas do rei Salomão, Na serra pelada, O rei do futebol, O casamento dos trapalhões, No rabo do cometa, O mágico de Oroz, O cangaceiro trapalhão, No planalto dos macacos, etc.

Os trapalhões fizeram história no cinema e nas telinhas brasileiras. Basta comprovar o filme O mundo mágico dos trapalhões onde comemoram 15 anos e dominavam a audiência dominical durante vários anos. Mussum e Zacarias já estão no andar de cima, mas é sempre prazeroso reviver esse momento não apenas de nostalgia, mas de gargalhadas do eterno quarteto que brilhou na vida dos brasileiros durante anos.

Um forte abraço a todos!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Queijinho de Minas

Martha Vieira Figueiredo Cunha é mais um nome inesquecível da Jovem Guarda: a Martinha, como é sempre reconhecida. Natural de Belo Horizonte, o apelido que abre esse post ganhou do rei Roberto Carlos, que imortalizou um de seus maiores sucessos Eu daria minha vida, também gravada posteriormente por Fafá de Belém.

Martinha começou sua carreira muito cedo, pois aos 19 anos já compôs essa que seria o pontapé para sua carreira de grandes composições. De lá pra cá, já lançou 23 discos e compôs para diversos artistas, sobretudo os sertanejos mais atualmente. Para o rei, além da citada, compôs a canção Tudo, presente no álbum Amor sem limite de 2000.

Entre outros sucessos da Martinha, interpretados por ela ou por outros intérpretes como Leonardo, Chitãozinho e Xororó, Ângela Maria, Gilliard, Moacir Franco, podemos citar Eu te amo mesmo assim, Barra limpa, Aqui, Só sonho quando eu penso que você sente o que eu sinto, Nossa canção, Contradições, Vai ser assim, Vem provar de mim, Queixas, Pouco a pouco, Machucando o coração, etc.

Martinha continua fazendo shows com sua inconfundível voz e, em seu piano, compondo canções cada vez mais lindas, sendo relembrada sempre como grande nome da Jovem Guarda e das baladas românticas!

Um forte abraço a todos!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Calor musical

Já abordamos no mês de setembro, as Flores musicais que esse país tupiniquim nos oferta, em reverência à Primavera. Hoje, em decorrência do Verão, vamos abordar o calor, não como uma energia em trânsito, como observamos em física, mas envolto a notas musicais verde e amarelas.

O calor é um tema recorrente no repertório de diversos artistas. Margareth Menezes por exemplo já mandou um "Vem mostrar pra mim o seu calor..." em Me abraça e me beija. Ney Matogrosso também expressou sua temperatura em Um pouco de calor com "Eu preciso de um pouco de calor..." Mas, isso não se restringe apenas à musica brasileira: Julio Iglesias já lançou um disco com o título Calor. Não é que essa temperatura é mesmo abrangente?

Adriana Calcanhoto foi indiferente a essa energia em Depois de ter você onde afirma " Depois de ter você, pra que querer saber que horas são, se é noite ou faz calor..." Mas, muito antes dela, Dalva de Oliveira já demonstrava outra forma imprescindível de calor em Que será: "Que será da minha vida sem o teu calor..." Arnaldo Antunes recentemente pediu Socorro por não sentir a mesma energia debatida: "Socorro não estou sentindo nada, nem medo, nem calor, nem fogo, nem vontade de chorar, nem de rir..."

Caetano Veloso também defeniu um certo Menino do rio com "Menino do rio, calor que provoca arrepio..." E o que dizer do clássico Carinhoso de Pinxiguinha num convite tentador: "Vem, vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus..." Em Bye, bye Brasil, Chico Buarque define o tempo: "Aqui ta fazendo calor, deu pane no ventilador..."

A temperatura sobe quando a referência é a estação Verão como em No mesmo verão do rei Roberto Carlos: "Você é mais quente que vinte janeiros, que dez fevereiros no mesmo verão..." Marina Lima anunciou a chegada da estação em Uma noite e meia: "Vem chegando o verão, um calor no coração..." José Augusto cantou as Chuvas de verão e Marcos Valle o Samba de verão. Roupa Nova aclamou a estação em Canção de verão: "É verão, bom sinal, já é tempo de abrir o coração e sonhar..." Carlos Lyra saiu com seu barquinho em um "Dia de luz, festa do sol..." Tom Jobim também alertou para o fim do verão com as Águas de março. Cartola sofreu com o término dessa estação em As rosas não falam: "Pois já vai terminando o verão enfim..."

Pois é! Com uma riqueza musical como essas e outras desse meu amado país, ficaríamos aqui horas e horas relembrando canções que fazem menção a altas temperaturas como as que estamos sentindo! Mas, há pouco mais de um mês do início oficial do Verão aqui no Brasil, só nos resta seguir como disse Dolores Duran em Estrada do sol: "me dê a mão, vamos sair pra ver o sol..."

Um forte abraço a todos!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A lista

Essa filosofia composta e cantada por Oswaldo Montenegro nos dá a dimensão do tempo x amizade. Quanto tempo passa sem percebermos, e junto com ele, amigos vão e outros vêm? E isso é uma questão delicada porque amizade é algo raro nos dias de hoje. Ter um amigo é difícil e mantê-lo é mais árduo ainda.

Sem sombra de dúvidas, contamos nos dedos os verdadeiros amigos que temos. E mais agravante é conservar esses amigos ao nosso lado, diante de tantas adversidades. Estamos sempre em busca de novos ideais e nem sempre é fácil desmontar a distância que, às vezes, separam grandes amigos.

Nesse caso, resta apenas a compreensão de que a verdadeira amizade não é afetada pela distância, afinal, a saudade também alimenta a vontade fraterna de um abraço em um amigo nunca esquecido. E o tempo é sempre aliado pois oferece experiências e as linhas para escrevermos nossa vivência:

A lista
(Oswaldo Montenegro)

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

Um forte abraço a todos!

sábado, 31 de janeiro de 2009

Perfil Ana Carolina

Esse é pra aqueles que amam as coletâneas. Acho interessante divugá-las por vários motivos já relatados: preço acessível e reúne vários sucessos e quando estamos ouvindo, dificilmente sentimos vontade de pular alguma faixa. Além, é claro, de oferecer ao ouvinte que não conhece a obra daquele artista, algumas das canções mais marcantes de seu repertório.

O Perfil de Ana Carolina foi lançado em 2005 e foi o mais vendido daquele ano, abordando os sucessos de seus três cds anteriores. Com um repertório recheado de clássicos radiofônicos, Perfil Ana Carolina foi recorde de vendagens para a coletânea e para sua discografia, apresentando sucessos como Garganta, Tô saindo, Quem de nós dois, Ela é bamba, Confesso, Encostar na tua, Uma louca tempestade e Nua.

O que dizer da belíssima canção Pra rua me levar, sucesso também interpretado por Maria Bethânia? Ou de Nada pra mim? O cd ainda oferece as canções Elevador, Que se danem os nós, O avesso dos ponteiros e Beatriz, clássico de Edu Lobo e Chico Buarque, de quem Ana se declara fã incondicional.

É como falei no início, para àqueles que curtem o trabalho da Ana, aqui está uma ótima coletânea, com letras no encarte e um repertório que abrange os clássicos dessa artista contemporânea que tantos admiradores tem atraído para seu trabalho tão refinado!

Um forte abraço a todos!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor...

Francisco de Assis França é mais um grande conterrâneo que destaco e que muito contribuiu na música brasileira, embora seu curto tempo de carreira. Mais conhecido como Chico Science, é natural de Olinda e responsável pelo movimento conhecido como Manguebeat, em meados da década de 90.

O manguebeat teve influência do soul, funk e hip hop, unido com ritmos nordestinos como o frevo, coco e o maracatu. Com essa mescla de instrumentos de percussão, no início da década de 90, Chico montou sua banda: a Nação Zumbi. A partir daí, começou a fazer shows em Recife e Olinda, alcançando destaque e expandindo para o sul do país, onde chamou a atenção por sua batida genuinamente original.

A banda lançou dois discos recebidos de forma positiva pela crítica: Da lama ao caos e Afrociberdelia. O primeiro, revelou a banda ao país, e o segundo, mais pop, levou a excursões pela Europa e Estados Unidos. Sucessos como A cidade, Praeira, Da lama ao caos, Etnia, Lixo do mangue, Manguetown, Quando a maré encher, Todos estão surdos, etc. influenciaram outras bandas e artistas locais e nacionais como Mundo livre S/A, Cordel de fogo encantado, Mombojó, Sepultura, Cássia Eller, Fernanda Abreu e Arnaldo Antunes.

Chico nos deixou em 1997, em um acidente automobilístico. Mas, sua semente foi plantada e continua a dar frutos em uma arte rica em observação e união de ritmos em prol de novos horizontes para a música brasileira.

Um forte abraço a todos!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O que ainda escutamos nas rádios?

Não gosto de escrever críticas. Não que viva um mundo de sonhos onde tudo é fantasia, mas é que prefiro destacar as coisas boas, dando ênfase a elas, já que temos tantos erros em destaque em nossa sociedade. Mas, uma pergunta cabe a todos os leitores amigos: quem ainda escuta rádio e o que escuta na atual programação?

Confesso que há mais de dez anos não ligo o som para ouvir rádio por muito tempo. Só de forma esporádica, um ou outro programa especial que chama atenção. Até os anos 90, as rádios tinham suas programações especiais, uma hora de sucesso, especiais com artistas, etc. De uns tempos pra cá, passou a ser ocupada por comerciais excessivos e uma programação ocupada por artistas seletivos do momento que exalam modismos musicais e ritmos dançantes, apenas. De repente, uma ou outra canção diferente, geralmente romântica, explode e toca de tal forma que parece que no repertório do país não existe outra tão bonita.

Aqui no Brasil, vivemos uma época de ouro do rádio, onde todos os eventos artísticos passavam por lá. Grandes programas culturais, educativos e grandes shows de calouros. Claro que isso já tem mais ou menos cinco décadas. Mas, o rádio evoluiu e atingiu mais ouvintes em duas bandas de frequência: AM e FM. Acredito que atualmente, a maioria dos ouvintes se concentrem nas Fm´s por apresentarem um som mais agradável, entretanto é nas Am´s que ainda podemos ouvir canções sem discriminação de artistas. E, alguns, cientes dessa questão, acabam criando rádios específicas tipo gospel, só mpb, notícias, separando um público que antes era unido em torno de uma programação auditiva da família brasileira.

Não posso afirmar que isso é um problema, porém é a realidade, é o momento atual de um veículo de comunicação que já foi referência para o divertimento da família brasileira. A meu ver, deveria oferecer uma programação eclética e não deixar de ser mais um ponto de informação e atualização, debates e lançamentos de artistas e perpetuação de outros que nossa música apresenta de forma abençoada!

Um forte abraço a todos!

domingo, 25 de janeiro de 2009

As cidades cantadas - 1

A música brasileira se une à geografia brasileira para apresentar uma série no Blog Música do Brasil, voltada para algumas cidades que foram cantadas e exaltadas por grandes compositores e intérpretes que conhecemos. Hoje, por ser aniversário de São Paulo, talvez a cidade mais importante do país, vamos abordar essa metrópole mundial em termos sonoros.

São Paulo foi cantada em alguns momentos, por alguns nomes como Adoniran Barbosa em Trem das onze ou Paulo Vanzolini em Ronda. Mas, sem sombra de dúvidas, a canção mais parecida com São Paulo vem de um baiano: Caetano Veloso em Sampa, onde através de belos versos escancara a maior cidade do país para o mundo todo conhecer suas esquinas e aflições, suas belezas e deslumbres:

Sampa
(Caetano Veloso)

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee,
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

Um forte abraço a todos e parabéns São Paulo!