Dia de eleição, onde escolhemos mais uma vez nomes para o executivo e o legislativo e, confesso que nunca participei de uma eleição tão ruim. Escolhemos não por opção, mas talvez por exclusão e isso é muito ruim, a meu ver. A gente cresce e nos pedem para aprendermos a votar e ultimamente não vejo como aprender, pois todos os lados desta eleição causam um certo desconforto por não despertarem na sociedade um elemento fundamental, a confiança.
Aí você pega uma canção do Caetano que, pelo título já parece ser tão atual, embora escrita há mais de 30 anos. Absurdo sua profecia de que vai cantar isso por mais zil anos e tudo que a letra diz soa muito atual, como as coisas que nos acontecem na política nos últimos 30 anos. A sensação é de que paramos no tempo ou andamos alguns passos pra frente e alguns para trás. E pra quem gosta de música, prefere acreditar nos verdadeiros heróis deste país, que são os grandes trabalhadores e, no caso com a música, aqui representado por vários Tons, miltons, Tins, Bens e tais...
Podres poderes
Caetano Veloso
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais
Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da América católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir
Por mais zil anos
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval
Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau
Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais
Um forte abraço a todos!