quinta-feira, 10 de abril de 2008

Vejo o céu aqui na terra e a terra no ar...

Abelim Maria da Cunha, nome verdadeiro de Ângela Maria, considerada por muitos como a maior cantora de todos os tempos da música brasileira, nos remete à época de ouro do rádio. Ângela chegou a cantar em igreja, quando paralelamente trabalhava numa fábrica inspecionando lâmpadas, mas se viu obrigada a abandonar esses dois ofícios; a igreja, porque cantava em programas de calouros, queria ser Dalva de Oliveira e o pastor não permitia cantar músicas profanas e músicas religiosas ao mesmo tempo, e a fábrica, porque era muito cansativo. E ela era a cópia fiel da Dalva, muito influenciada por ela, o que causava um certo desânimo porque não conseguiam enxergar a grande artista que estava por trás dessa influência.

Mas, o sucesso logo chegaria e também o apelido de "sapoti", dado pelo então presidente Getúlio Vargas: "Menina, você tem a voz doce e a cor do sapoti". Mesmo não estando nas paradas de sucesso, sempre foi uma das cantoras que mais venderam e vendem discos no Brasil. E o que dizer de Babalú, seu maior sucesso e que até hoje canta nos shows, como uma espécie de teste para sua voz, sempre afinada e fascinante!

E todo reconhecimento da obra da Ângela é tido por todos os artistas sobretudo no ano de 1996 quando gravou o disco Amigos, em parceria com 15 convidados ilustres: Roberto Carlos, Chico Buarque, Maria Bethânia, Fagner, Gal Costa, Nana Caymmi, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Emílio Santiago, Zezé di Camargo e Luciano, Alcione, Fafá de Belém, Agnaldo Timóteo, Djavan e Milton Nascimento. Agora, eu pergunto, precisa dizer mais alguma coisa? Numa época em que ainda nem era moda um disco de duetos como hoje em dia, ser reverenciada por todos esses grande nomes ao mesmo tempo? A Globo também produziu especial com 12, desses 15 nomes no palco com a sapoti.

Outros parceiros constantes na vida da Ângela são Agnaldo Rayol e Cauby Peixoto, este último com quem já gravou um disco, como também com Nelson Gonçalves e Agnaldo Timóteo, seu antigo motorista, com quem gravou um disco ao vivo e participou de um projeto em homenagem às mães em um disco do Timóteo. Outro disco notável da Ângela é "Pela saudade que me invade", uma homenagem à sua grande musa inspiradora Dalva de Oliveira, com a participação de Fagner, Simone, Agnaldo Rayol, Martinho da Vila, Pery Ribeiro e da própria Dalva, através da tecnologia.

Desses e de tantos discos e projetos e dessa grande voz, surgem canções inesquecíveis na música brasileira, como Babalú, Cinderela, Vida de bailarina, Balada triste, Escuta, Gente humilde, Orgulho, Nem eu, Ave Maria no morro, Fósforo queimado, Falhaste coração, Lábios de mel, Kalu, Que será?, e tantas outras que fazem da Ângela a notável cantora que é na música brasileira e que só podemos agradecer a Deus, o privilégio de ter uma artista assim entre nós e para nós!

Um forte abraço a todos!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Tu vens, tu vens, eu já escuto teus sinais...

Mais um conterrâneo meu, Alceu Valença, nascido também no interior, São Bento do Una, divisa entre Agreste e Sertão. Possui influências de Luiz Gonzaga e Elvis Plesley, surgindo um artista que engloba forró, repente, coco e principalmente frevo, o mais constante em sua obra, sempre com uma levada que inclui baixo e guitarra. Sua música e seu universo temático são universais, mas, sua base estética está fincada na nordestinidade.

Quando mudou-se para o Recife, onde concluiu o curso de direito, conheceu a música urbana de Orlando Silva e Nelson Gonçalves e decidiu abandonar a carreira de advogado e se dedicou à sensibilidade artística. Como já citado em outro tópico sobre o Geraldo Azevedo, gravou seu primeiro disco em parceria com este no início dos anos 70. Depois desse lançamento, ficou praticamente impossível acontecer um frevo em Pernambuco, sem a participação sonora do Alceu.

Seus discos sempre trazem muito sucesso que geralmente acontecem mais na época do carnaval ou durante as festas juninas, se seguir a linha forró, baião, coco, entre outros. Entre seus hits, estão Beijando Flora, La belle de Jour, Bicho Maluco Beleza, Anunciação, Bom demais, Como dois animais, Coração bobo, De janeiro a janeiro, Morena tropicana, Hino do Galo da madrugada, Me segura se não eu caio, Numa sala de Reboco, Pelas ruas que andei, Ciranda da Rosa Vermelha, Petrolina Juazeiro, Voltei Recife, Diabo louro, Roda e avisa, entre tantas que sempre nos remetem às festas de ruas de Pernambuco, que Alceu tanto divulga nas canções que interpreta.

Algumas gravações são antológicas na interpretação do Alceu, como a gravação do Hino de Pernambuco em frevo, que popularizou e difundiu o Hino entre a sociedade. Outro Hino muito executado no "sábado de Zé Pereira" é o Hino do Galo da madrugada. Outra canção que se notabilizou foi Roda e avisa, um saudosismo dedicado ao Velho Guerreiro e apresentador Chacrinha, também nosso conterrâneo e que Alceu sempre participava de seu programa televisivo.

Alceu participou do primeiro projeto Grande encontro, na década de 90 com Geraldo, Elba e Zé Ramalho. Atualmente se dedica a divulgar seu dvd Ao vivo no Marco Zero, gravado no Recife e com a participação do público fiel que sempre canta seus sucessos nos carnavais e em todos os tempos do ano, quando sempre é legal ouvir sua musicalidade!

Um forte abraço a todos!

domingo, 6 de abril de 2008

O Papa da Bossa Nova

João Gilberto é considerado o criador da bossa nova, ritmo esse que completa 50 anos em 2008. Nascido na Bahia, na cidade de Juazeiro, João ganhou um violão aos 14 anos de idade, e jamais o largou. Numa época em que os cantores de rádio imperavam, João surgiu para quebrar essa tradição e mostrar que cantor de voz baixa pode ser até mais elegante para a música.

A Bossa Nova é uma mistura do ritmo sincopado da percussão do samba numa forma simplificada e ao mesmo tempo sofisticada, que pode ser tocada num violão. É como se vestissem os sambas antigos de notas dissonantes e diminuíssem seu tempo percussivo. Quanto à técnica vocal (parte integral do conceito de bossa nova), é cantar em tom de voz uniforme, de forma a eliminar quase todo o ruído da respiração e outras imperfeições. O resultado beira a perfeição, sobretudo quando João Gilberto é o intérprete. Todos simplesmente ficaram boquiabertos com aquele novo jeito de tocar, unânime até então e sempre.

A primeira gravação do João foi como violonista no disco da Elizeth Cardoso em Canção do amor demais, de Tom e Vinícius em 1958. Há controvérsias de que esse seria o marco inicial da Bossa Nova. Pouco depois, João grava seu primeiro Lp, Chega de saudade, uma gravação antológica que, para muitos é um divisor de águas na música brasileira, pois marcaria definitivamente um jeito de cantar, um estilo musical. Outras canções da década de 30 também estavam presentes, mas em estilo bossa, além de lançar novos compositores como Carlos Lyra e Roberto Menescal.

A partir daí, João ganha os Estados Unidos, o México, o mundo... E ganha também a admiração e o respeito de quase todos os artistas nacionais, que se dizem influenciados por João, de uma forma ou de outra, seja por seu violão, fraseado ou canto suave. E quem não delira ao ouvir Chega de saudade, A felicidade, Acontece que eu sou baiano, Amor em paz, Águas de março, Aquarela do Brasil, Brigas nunca mais, Caminhos cruzados, Coisa mais linda, Dindi, Da cor do pecado, Desafinado, Ela é carioca, Eu sei que vou te amar, Garota de Ipanema, Insensatez, Lígia, Manhã de carnaval, Meditação, O barquinho, Rosa Morena, Sampa, Wave, Você não sabe amar e tantas outras com a marca João Gilberto? Além de Caymmi, Tom e Vinícius João regravou Caetano Veloso, que também produziu seu disco Voz e violão em 2000, retomando os clássicos de sempre do pai da bossa.

João Gilberto tem, há muito, a reputação de excêntrico, recluso e perfeccionista. Continua a fazer (raras) apresentações, com enorme sucesso no Brasil e no exterior. Entrevista, é quase impossível, poucas vezes alguém conseguiu. É aquele típico artista que alguns adoram, outros, talvez por não compreenderem bem o detestam ou simplesmente, por gosto musical mesmo, não simpatizam com seu perfeccionismo! Mas, nunca podemos negar que é quase impossível encontrar um artista completo como ele é, pois muitos são intérpretes, outros são músicos, outros conseguem deitar e rolar com suas orquestras, mas, João é apenas voz e violão, a maior estrela desse estilo único, que é ele mesmo!

Um forte abraço a todos!

sábado, 5 de abril de 2008

Clássicos brasileiros...

A definição de clássico no dicionário representa um adjetivo que constitui modelo em belas-artes. Mas, a palavra clássico vai além disso e causa um certa confusão quando se trata de música brasileira! O que seria clássico dentro desse universo? Antes de mais nada, vou afirmar que essa pergunta não será respondida por mim nesse tópico ou talvez por ninguém porque é algo muito relativo.

A música clássica ou música erudita é um termo amplo utilizado costumeiramente para se referir à música produzida (ou baseada) nas tradições da música de concerto e eclesiástica ocidental, englobando um período amplo que vai, aproximadamente, do século IX até a atualidade. O termo "música clássica" só apareceu no início do século XIX, numa tentativa de se "canonizar" o período que vai de Bach até Beethoven como uma era de ouro.

A relação entre a música erudita e a música popular é uma questão polêmica (principalmente o valor estético de cada uma). Os adeptos da música erudita reclamam que este gênero constitui arte (e, por isso é menos vulgarizada) enquanto que a música popular é mero entretenimento (o que implica um público mais numeroso). Contudo, muitas peças musicais da música popular possuem um elevado valor artístico e, curiosamente, são chamadas de "clássicos".

Mas, o que se observa é que foi feito uma adaptação. Tomamos o termo clássico e rotulamos canções que marcaram época, que sobrevivem ao tempo, aos modismos, que se tornam inesquecíveis aos ouvidos dos brasileiros, independente da idade ou contexto em que surgiram tais obras.

E, outro fato curioso é que, enquanto a música clássica é formal, no que diz respeito aos acordes e à melodia, as músicas chamadas clássicos brasileiros não tem necessariamente uma formalidade, pois uma canção que se tornou um clássico não precisa ter acordes dissonantes, mas marca de uma forma surpreendente! O segredo está aí! O que acontece para uma canção marcar e se tornar um clássico nesse país? E qual o parâmetro que utlizamos para afirmar que essas canções são clássicas?

Esse é um assunto longo e parece inacabado. Na Argentina por exemplo, um estilo é clássico, o tango. Daí, algumas canções desse estilo ficaram na memória do país e internacionalmente remete qualquer ouvinte àquela nação, vide Camiñito, El dia que me quieras, Volver, La cumparsita, etc. O mesmo comentário pode ser feito em relação ao fado para Portugal e o bolero para o México. No Brasil, embora o ritmo predominante seja o samba, todas as influências externas e internas de miscigenação de um povo influenciaram positivamente essa diversidade de ritmos e clássicos que temos atualmente!

A confusão parece vir à tona quando pensamos enumerar algumas canções que chamamos de clássicas, seja de um artista ou da nação no geral. Uma tarefa dificílima, polêmica e nunca chegamos a um consenso! Aquarela do Brasil do Ary Barroso seria um clássico, mas eu também considero No rancho fundo, do mesmo autor um... Asa Branca do Luiz Gonzaga é um clássico, mas eu incluiria Qui nem jiló, Riacho do navio, Numa sala de reboco..., xiii, vamos para outro artista... As rosas não falam do Cartola é um clássico, mas eu também incluiria Acontece,... Só louco do Caymmi é um clássico, mas eu também incluiria Marina, ... Sampa do Caetano é um clássico, mas eu não poderia esquecer Você é linda, Força estranha, Meu bem meu mal, ... Detalhes do Roberto é um clássico, mas eu consideraria Emoções, Café da manhã, ... bom, vou parar porque esse foi um tópico que me fez ficar em conflito comigo mesmo! Não era esse o propósito, isso é clássico acontecer quando pensamos em clássicos que desejamos listar... Talvez vocês me ajudem a pensar melhor.

Na verdade isso é apenas uma brincadeira e, ao mesmo tempo uma provocação pra que vocês expressem suas valiosas opiniões, porque o verdadeiro sentimento que tenho é de orgulho por ficar confuso entre tantos clássicos. Vou deixá-los com uma canção que também considero clássica, no repertório de música brasileira:

Manhã de carnaval
(Luiz Bonfá e Antônio Maria)

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás

Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz na manhã
Desse amor

Um forte abraço a todos!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Vou deixar a rua me levar...

Ana Carolina é uma das grandes vozes da nova geração da música brasileira! E bota voz naquele grave inconfundível dela. Natural de Juiz de Fora, sua influência músical vem de berço pois sua avó cantava no rádio e seus tios-avós tocavam percussão, piano, cello e violino. Cresceu ouvindo ícones da música brasileira como Chico Buarque, João Bosco e Maria Bethânia. Ainda na adolescência, iniciou a carreira de cantora apresentando-se em bares de sua cidade natal.

Em 1999 lançou seu primeiro disco onde resgasta clássicos antigos como Beatriz e Retrato em Branco e Preto do Chico Buarque, passa pelo Pop de Lulu Santos em Tudo bem e a revela como compositora com A Canção tocou na hora errada, Trancado, Armazém e O avesso dos ponteiros e também a Totonho Villeroy: Garganta e Tô saindo, que passa a ser o seu grande parceiro em composições. Foi através desse CD que Ana Carolina foi indicada ao Grammy Latino.

Em seu segundo disco, uma curiosidade, o título é todo construído em cima de títulos de canções do Chico Buarque: Ana Rita Joana Iracema e Carolina. Esse disco traz também os sucessos Quem de nós dois e Ela é bamba. Seu terceiro álbum, Estampado, traz na última faixa um dueto com Seu Jorge, já prevendo uma parceria que daria certo, confirmada no quinto cd Ana & Jorge ao vivo que explodiu com o hit É isso aí. A coletânea Perfil de Ana carolina saiu antes, com uma expressiva vendagem, reunindo os grandes sucessos da cantora e compositora, até então. Dois Quartos foi lançado em 2006, um projeto duplo.

Esse ano, está lançando o projeto Multi Show - Ana Carolina - Dois Quartos, em cd e dvd de um show que foi gravado ano passado com seus grandes sucessos e uma novidade, para os fãs de É Isso Aí (The Blower's Daughter), Ana Carolina canta e toca essa música no piano! Outros sucessos dela são Cantinho, Pra rua me levar, Ruas de outuno, Rosas, O avesso dos ponteiros, Cabide, Nada pra mim, Sinais de fogo, Eu não sei quase nada do mar, Carvão, Encostar na tua, etc.

Ana se mostra uma grande intérprete ao passear por clássicos da nossa música como Outra vez, Que será e Mil perdões, e tem o prazer de ver outros artistas interpretando suas canções como Maria Bethânia, Gal Costa, Mart´nália, Fábio Jr., Preta Gil e Luiza Possi, o que comprova que temos novos artistas criando coisas acima do padrão atual de música!

Um forte abraço a todos!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Pérola negra

Luiz Carlos dos Santos, mais conhecido como Luiz Melodia, tem música até no nome! Nasceu no Rio de Janeiro e descobriu a música ao ver o pai tocando seu violão de quatro cordas em casa, embora o pai tivesse ciúmes do instrumento e o deixasse pouco acessível ao filho! E foi justamente seu pai que se tornou um fã tão importante e ao mesmo tempo um ídolo eterno. Tanto é que o sonho de Melodia era gravar um disco do pai, que infelizmente se foi antes do sonho realizado!

Luiz Melodia é desses artistas com voz única no Brasil. Não temos outro que tenha um timbre semelhante ao dele! Nascido no morro carioca, o berço do samba, sofreu influências da bossa nova e da jovem guarda. Através do poeta Wally Salomão, "Melô" conheceu a sua intérprete favorita: Gal Costa que gravaria seu maior sucesso, Pérola negra, além de outros como Juventude Transviada que tornou-se inesquecível por sua primeira frase: "Lavar roupa todo dia, que agonia!..." No acústico Mtv da Gal em 1997, Luiz participa no dueto de Pérola negra, numa espécie de agradecimento eterno à sua madrinha.

Maria Bethânia gravou outra composição sua Estácio Holly Estácio. Além desses, Melodia emplacou também sucessos de outros compositores, firmando sua marca de intérprete para Codinome Beija-flor, Quase fui lhe procurar, Negro gato, O caderninho, Com muito amor e carinho, Valsa brasileira, Tereza da praia, Rosa, entre outras. Melodia também já dividiu vocais com artistas como Fagner, Tim Maia, Caetano Veloso, Emílio Santiago, Zizi Possi e Zeca Pagodinho.

Atualmente, Luiz Melodia anda divulgando o seu mais recente trabalho sobre o samba dos morros - Estação Melodia. É como se fizesse um apanhado de suas raízes, das coisas que ouvia, das lembranças de seu pai! E o Brasil agradece...

Um forte abraço a todos!

domingo, 30 de março de 2008

O repertório mais visitado do país!

Sua majestade musical me dá a honra de estar aqui mais uma vez, dessa vez como o compositor mais regravado da história da música brasileira, se não mundial. Todos os grandes intérpretes do país e muitos internacionais já gravaram alguma coisa da autoria do Roberto ou interpretada e imortalizada por ele. E esse fenômeno é observado década após década desde os anos 60.

Seria árduo citar todos os artistas que já gravaram Roberto e Erasmo, são mais de cem no mundo todo. E no decorrer dos anos, tornou-se uma prática cada vez mais comum entre os artistas. Gravar uma canção do Roberto era sinônimo de êxito, ao menos naquela faixa que poderia puxar todo o disco. Sem falar no desafio que sempre foi interpretar algo já cantado pelo rei!

Em 1979 Nara Leão ousou e gravou um disco todo em homenagem ao brasa. A partir daí, muitos intérpretes, até hoje sonham em ter um projeto como esse, mas poucos conseguiram. A Bethânia foi uma das felizardas e fez um disco antológico em 1993 - As canções que você fez pra mim. O Padre Marcelo também fez disco só com mensagens do rei, isso pra não citar também o Paulo Ricardo, Sérgio Reis, Roqueiros e até o internacional Roberto Leal, são alguns que conseguiram emplacar um disco temático Roberto Carlos.

Na década de 90, as músicas do Roberto e do Erasmo eram regravadas sem freio. Se por um lado, tínhamos artistas como Cauby Peixoto, que para gravar um medley com canções do rei foi a um show no Recife especialmente pedir autorização, tínhamos artistas, muitas vezes anônimos, regravando e lucrando em cima dos temas de sua majestade sem pedir licença, o que fez o Roberto tomar a decisão de filtrar suas regravações ou até restringi-las a poucos. Isso gerou desespero e desapontamento em alguns artistas que tiveram veto ao tentarem regravar o rei. Dizem que a Simone teve que refazer um disco por ter vetada a releitura de Vou ficar nu pra chamar sua atenção. Outros artistas que sofreram veto, segundo imprensa da época foram Marisa Monte, Zé Ramalho e Daniela Mercury, além da própria Bethânia que não teve a canção Fera ferida em seu cd Maricotinha, mas depois de conversar pessoalmente com o rei, resolveu o mal entendido e teve a liberação para o dvd. Contam também que esses vetos se tornaram piores quando coincidiram com o Toc, problema psicológico assumido pelo rei que faz "implicar" com certas palavras contidas nas canções.

Mas, engana-se quem pensa que dessa forma, a obra do Roberto deixou de ser visitada. Fato curioso faz com que suas canções continuem a ser regravadas pelas antigas e principalmente novas gerações que se seguem. Se é difícil regravar a obra do Roberto, tornam-se mais acessíveís as canções que ele cantou de outros compositores. Com isso temos, nessa década de 2000, veteranos como o Leonardo com 120, 150, 200 km/h, roqueiros recentes como o Jota Quest com Além do horizonte, até revelações como Marina Elali com Você ou Isabella Taviani com Ternura ou Tânia Mara com Sua estupidez e Sonho lindo, só pra citar algumas.

É o rei sempre presente, em cartaz nos shows desse país, nos discos, nas releituras, no passado, no presente, durante muito tempo em nossa vida... E ficamos com Detalhes, a canção mais apropriada para reafirmar o que ele falou há tanto tempo, que nem adianta tentar o esquecer... Roberto, você já sabe, simplesmente conquistou o prazer de ser inesquecível em todo o mundo... E volte sempre...

Detalhes
Roberto Carlos/Erasmo Carlos

Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito tempo em sua vida, eu vou viver
Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E toda hora vão estar presentes, você vai ver

Se um outro cabeludo aparecer na sua rua
E isso lhe trouxer saudades minhas, a culpa é sua
O ronco barulhento do seu carro
A velha calça desbotada ou coisa assim
Imediatamente você vai lembrar de mim

Eu sei que um outro deve estar falando ao seu ouvido
Palavras de amor como eu falei mas eu duvido
Duvido que ele tenha tanto amor
E até os erros do meu português ruim
E nessa hora você vai lembrar de mim

À noite envolvida no silêncio do seu quarto
Antes de dormir você procura o meu retrato
Mas na moldura não sou eu quem lhe sorri
Mas você vê o meu sorriso mesmo assim
E tudo isso vai fazer você lembrar de mim

Se alguém tocar seu corpo como eu não diga nada
Não vá dizer meu nome sem querer à pessoa errada
Pensando ter amor nesse momento
Desesperada você tenta até o fim
E até nesse momento você vai lembrar de mim

Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma todo o amor em quase nada
Mas quase também é mais um detalhe
Um grande amor não vai morrer assim
Por isso, de vez em quando, você vai, vai lembrar de mim

Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito, muito tempo em sua vida eu vou viver
Não, não adianta nem tentar me esquecer...

Um forte abraço a todos!

sábado, 29 de março de 2008

Dizem que os dedos sentem sabor...

O samba ou pagode raiz tem um grande nome para celebrar: Jorge Aragão! Sua música não apenas alcançou todo o Brasil e exterior, mas é a única ouvida fora do planeta, quando tocou em Marte! Quase todos os grandes intérpretes de samba (Beth Carvalho, Alcione, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Leci Brandão) têm canções de Jorge Aragão em seu repertório. E de outros estilos também, o que se verifica no repertório de Ney Matogrosso, Emílio Santiago, Sandra Sá entre outros.


Elza Soares foi a primeira intérprete a gravar uma composição dele - Malandro, parceira com Jotabê em 1977. Como cantor participou do grupo Fundo de quintal, seguindo posteriormente, carreira solo onde gravou seu primeiro disco em 1982.

Entre seus sucessos está Coisinha do Pai (com Almir Guineto e Luiz Carlos), consagrado na voz de Beth Carvalho, que valeu uma versão inédita em 1997 para acordar um robô da Nasa em Marte. Outra composição bastante popular é a Globeleza, um jingle feito por Jorge Aragão especialmente para as chamadas de Carnaval da Rede Globo antes da transmissão dos desfiles das escolas de samba. Outros sucessos são Abuso de poder, Espelhos d´água, Coisa de Pele, Vou Festejar, Encontro das águas, Falsa consideração, Do Fundo do Nosso Quintal, Eu você sempre, Papel de pão, Doce amizade, Não sou mais disso, Loucuras de uma paixão, dentre tantos.

Aragão é um grande sambista e um grande compositor, mas seus sambas se diferenciam pela suavidade de sua voz ao interpretá-las, contrariando àqueles que afirmam que os bons compositores não cantam bem, o que podemos comprovar por exemplo em Doce amizade ou no dueto com Jorge Vercilo em Encontro das águas, ou com Emílio Santiago em Espelhos d´água! E algumas de suas grandes canções tornam-se marcantes por algum motivo extra, como já citado em Globeleza e Coisinha do pai, ou por estarem presentes em momentos únicos, como acontece com Vou festejar que se tornou tradicional nas festas de virada de ano nas rádios e residências, como um anúncio da alegria e uma ponte com o Carnaval, mesmo sendo uma letra que fala de um amor que não deu certo.
Não sei se realmente os dedos sentem sabor, mas sem dúvida os ouvidos sentem o bom sabor do samba e do profissionalismo desse grande músico brasileiro!

Um forte abraço a todos!

quinta-feira, 27 de março de 2008

A aquarela de Toquinho...

Antonio Pecci Filho, nosso Toquinho, nasceu em São Paulo e ganhou esse apelido de sua mãe que o chamava de "meu toquinho de gente". Aos 14 anos já se interessava por violão e tinha aulas, chegando ao violão clássico. Seguiu aprimorando seu conhecimento harmônico, com o passar dos anos! Começou se apresentando em colégios e faculdades e se profissionalizou nos anos 60, quando conheceu Chico Buarque!

Toquinho cultiva até hoje com Chico uma forte amizade iniciada aos 17 anos, época em que compuseram juntos a canção Lua cheia, a primeira melodia de Toquinho a receber uma letra, e que se constituiria, em 1967, na sua primeira canção gravada em disco, no LP Chico Buarque de Holanda - Volume 2. Em 1966 gravou seu primeiro LP instrumental: O violão de Toquinho. Essa amizade com o Chico o levou à Itália em 1969, época do exílio do parceiro, onde passou seis meses e tornou-se conhecido e popularizado, fazendo sempre temporadas naquela país! Com esse parceiro, já compôs inúmeras composições, dentre elas o Samba de Orly, que foi uma das saudades do Chico proferidas em forma de canção!

Toquinho também participou dos grandes musicais da TV Record e de seus importantes Festivais da Canção Popular. Em 1970 recebe o convite do poeta Vinícius de Moraes para o acompanhar em shows, surgindo uma parceria e amizade de onze anos em palco e cerca de 120 canções compostas, além de 25 lps no Brasil e no exterior!

Seu primeiro grande sucesso foi Que maravilha, em parceria com Jorge Ben em 1970. E a partir daí sucedem shows com Vinícius, composições e sucessos reconhecidos como Aquarela, Tarde em Itapoã, O caderno, Carta ao Tom 74, Regra três, Mas que nada, Samba pra Vinícius, Era uma vez, etc. Mas, engana-se quem pensa que Toquinho não interpreta outros compositores, pois já deu voz à clássicos como Gente Humilde, A banda, Aquarela do Brasil, Manhã de carnaval, Triste, Se todos fossem iguais a você, Sinal fechado, etc.

Em 2001, gravou seu primeiro dvd, revivendo grandes sucessos! Aquarela é um desses grandes sucessos do Toquinho, se não for o maior e, tornou-se popular nas rádios e escolas, transformando-se em um dos grandes hinos da educação no país!

Aquarela
(Toquinho - Vinicius de Moraes - M. Fabrizio - G. Morra)

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva,
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva.

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.

Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul,
Vou com ela, viajando, Havai, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco a vela branco, navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul.

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar.
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, indo,
E se a gente quiser ele vai pousar.

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida.
De uma América a outra consigo passar num segundo,
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo.

Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.

E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar,
Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá.

O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar.
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá.
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá).
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá).
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (que descolorirá...).

Um forte abraço a todos!

terça-feira, 25 de março de 2008

Per amore...

Maria Izildinha Possi, nossa Zizi Possi começou no finalzinho da década de 70. Seu sucesso consolidou-se com a gravação do dueto Pedaço de mim em 1978 com Chico Buarque. A partir daí e durante toda década de 80, Zizi lançou vários hits radiofônicos como Nunca, Meu Amigo Meu Herói, Asa Morena, O Amor Vem Pra Cada Um (versão de The Love Come To Everyone, de George Harrison), Perigo, A Paz, Esquece e Vem, Noite, Caminhos do sol, Papel Marchê, Meu bem querer, Tempos modernos, entre outras.

No início dos 90, Zizi dá uma guinada na vida, rompe com sua gravadora e parte para um novo desafio, reconhecido posteriormente como um divisor de águas em sua carreira. Concebe, arranja e interpreta três trabalhos em um formato inusitado na época, mas muito conhecido hoje: o tal acústico. Sobre Todas as Coisas, Valsa Brasileira e Mais Simples são considerados obras-primas e marcam definitivamente a carreira de Zizi e a música popular brasileira.

Em 1997 surge a proposta de gravar um CD em italiano (Per Amore) de estrondoso sucesso, aplaudido pela crítica e pelo público. No ano seguinte, Zizi lança o CD Passione, considerado continuação do enorme sucesso Per Amore. Juntos esse dois álbuns vendem mais de 1 milhão de cópias.

Sob a direção de José Possi Neto e produção de Manoel Poladian, Zizi apresenta um novo show, agora acompanhada por baixo e bateria, além do piano do maestro Jether. O show, registrado em CD e DVD em agosto de 2005 no Teatro Frei Caneca, é lançado em dezembro do mesmo ano, com distribuição da Universal Music. Em 27 anos de carreira, esse é o primeiro disco ao vivo de Zizi Possi, que passou por uma recente depressão pessoal, se afastando um pouco de tudo, mas já está de volta ao seu público cativo que tanto aprecia seu valioso trabalho.

Duas ótimas coletâneas da Zizi são Romântica, com sucessos como Luiza, Nunca e Eu te amo; e Pedaço de mim, onde encontramos sucessos mais radiofônicos dela com Perigo e Asa morena, além de suas interpretações para Djavan (Meu bem querer), Lulu Santos (Tempos modernos) e João Bosco (Papel marchê). Gosto muito dessa última e da interpretação da Zizi e, ao contrário de muitos, torço pra que ela sempre mescle as duas fases de sua carreira pois assim deixa uma marca mais eclética em seu trabalho tão sofisticado e apreciado por todos!

Um forte abraço a todos!