domingo, 4 de maio de 2008

Eu amava como amava algum cantor...

"Eu amava como amava algum cantor..." Quem nunca se emocionou com essa canção que fez sucesso em 1989 na novela O salvador da pátria da Globo? Com essa magnífica interpretação e composição de Oswaldo Viveiros Montenegro.

Quando criança já era ligado à música, sobretudo às serestas, que influenciaram a idéia de estudar violão, quando morou durante um tempo em Minas Gerais! A partir daí e ainda adolescente, abraça a música com bastante afinidade e dedicação, e seus estudos o levam a competir em festivais no início dos anos 70. Seu primeiro lp sai em 1977 - Trilhas, que não obteve êxito e hoje é raro entre os fãs. Foi no Festival da Tupi em 1979 que estourou seu primeiro grande sucesso - Bandolins.

É entre espetáculos teatrais musicais e gravações que Oswaldo acumula êxitos nas paradas e no coração do público brasileiro. Curiosamente, em uma de suas peças em Brasília, surgiam as então anônimas Cássia Eller e Zélia Duncan. E essas peças teatrais são um capítulo a parte na vida do Oswaldo que acumula mais de 14 êxitos.

No campo musical já foi interpretado por vários outros grandes artistas como Ney Matogrosso, Sandra de Sá, Paulinho Moska, Zé Ramalho, Alceu Valença, Zizi Possi, Zélia Duncan, Jorge Vercilo, Altemar Dutra, Gonzaguinha, Sivuca, entre outros em sucessos como A dança dos signos, A lista, Bandolins, Chão de giz, Como é grande o meu amor por você, Condor, Lua e flor, Baioque, Os menestréis, Tocando em frente, entre outros, onde também interpreta grandes ídolos como Chico Buarque, Roberto Carlos, Zé Ramalho e Caetano Veloso.

Ficamos com a letra de A lista, um poema interpretado com todo brilhantismo do Oswaldo, reforçando a idéia de que a evolução do ser humano é muitas vezes, desprovida de atenção e reflexão de sonhos e amizades e até de uma clara compreensão! Filosofia pura...

A lista
Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia?
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

Um forte abraço a todos!

sábado, 3 de maio de 2008

Eu quero você como eu quero...

Paula Toller, George Israel e Bruno Fortunato fazem juntos esse grupo de rock chamado Kid Abelha. E justamente a banda surgiu no Rio, no momento de maior efervescência do rock, via casa de shows Circo Voador. "Fazer amor de madrugada..." foi o primeiro refrão do grupo a permanecer na cabeça dos brasileiros. Píntura íntima foi a primeira música da banda a entrar em uma novela e primeiro disco de ouro, do primeiro compacto do grupo. Em 1984 surge o maior sucesso da banda "Como eu quero" que foi o segundo maior sucesso do ano.

A partir desses êxitos, o grupo seguiu horizontes como o Rock in Rio 85 e mandou grandes sucessos como Fixação, Não vou ficar, Nada por mim, As curvas da estrada de Santos, Eu só penso em você, Eu tive um sonho, Lágrimas e chuva, Na rua na chuva na fazenda, Nada sei, Pingos de amor, Quero te encontrar, Te amo pra sempre, entre outros.

Vale lembrar que o cantor/compositor Leoni foi um dos fundadores do grupo, permanecendo até meados de 1986. Um dos grandes sucessos autorais da Paula foi Nada por mim, em parceria com Hebert Viana, regravado por grandes nomes da música brasileira como Nelson Gonçalves e Marina Lima. George também compôs com gente como Cazuza, o clássico do rock nacional - Brasil, que foi gravado pelos próprios Kid Abelha, Cazuza e Gal Costa e ficou conhecida nacionalmente pelo forte refrão de protesto "Brasil, mostra tua cara..."

Em 2002 a banda comemorou 20 anos de carreira com um projeto que rendeu mais de um milhão de cópias, o acústico mtv. Contando com os grandes sucessos do grupo e algumas ousadias como Brasil, de Cazuza e George, e uma regravação inusitada de Quero te encontrar, da dupla Claudinho e Buchecha, vencendo críticas existentes e mostrando que música boa sobrevive aos tempos e preconceitos. O disco ainda figura como um dos mais vendidos dos últimos anos.

Algumas curiosidades legais envolve o Kid Abelha, como banda de rock, alcançam um público jovem maçiço sempre com canções que abastecem as trilhas sonoras de seu público. Já emplacaram muitos sucessos radiofônicos, cerca de 30. O grupo deu uma paradinha agora em 2007, onde Paula e George lançaram trabalhos solos. Nesse mesmo ano, o grupo completou 25 anos de carreira. É possível que estejam preparando algo para comemorar essa data, é o que desejam os fãs dessa grande banda e os amantes do pop rock e da boa música.

Um forte abraço a todos!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O fruto do trabalho é mais que sagrado...

A música brasileira apresenta grandes profissionais, relembrados, comentados e debatidos com frequência nesse espaço. Grandes compositores, intérpretes, maestros, instrumentistas, técnicos enfim, temos profissionais que não deixam a desejar, em todas as vertentes musicais caracterizando a diversidade e miscigenação de um povo e de uma cultura altamente produtiva.

"Trabalhar edifica o homem". Essa frase lacônica expressa a filosofia do nosso ganha pão e é praticada com afinco pelos nossos artistas musicais. Muitas vezes, alguns de nossos compositores ressaltam o ato de trabalhar em suas letras. Vamos lembrar algumas delas aqui e se os colegas quiserem mencionar outras, agradeço o enriquecimento desse tópico dedicado a todos os trabalhadores, não restringindo ao campo musical.

Uma das frases mais célebres da música brasileira em relação ao trabalho é de Gonzaguinha em Guerreiro menino: "Um homem se humilha, se castram seus sonhos, seu sonho é sua vida e a vida é o trabalho e sem o seu trabalho um homem não tem honra e sem a sua honra se morre, se mata". Com essa explanação, Gonzaguinha, que sempre acredita na rapaziada, conseguiu pôr em música o quanto o trabalho edifica o homem.

O rei Roberto e seu parceiro Erasmo também expressaram sua admiração pelo povo, típico Herói calado que construe a história desse país: "Pega no pesado, o corpo suado, calos tem nas palmas das mãos, esse herói calado, um abençoado o nome dele é povão..." é uma das estrofes desse artista que já ressaltou outros profissinais mais específicos, o taxista e os caminhoneiros.

Milton Nascimento também ressalta o trabalho em Fé cega, faca amolada: "Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia, beber o vinho e renascer na luz de todo o dia..."

O Chico Buarque vai além em vários temas, como em Cotidiano que ressalta o trabalhador diante de uma parceira que faz tudo igual, porém divino "Todo dia ela faz tudo sempre Me sacode as seis horas da manhã Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortelã". Ou em Vai trabalhar vagabundo: "Vai trabalhar, vagabundo Vai trabalhar, criatura Deus permite a todo mundo Uma loucura...", onde ressalta os obstáculos e desamores de quem trabalha, os sofrimentos...

Tim Maia, parece que compreendeu bem a canção anterior do Chico e cantou um protesto contra o trabalho em Sossego: "Não me amole com esse papo de emprego, não tá vendo que não tô nessa, o que eu quero é sossego..." e o Tim, às vezes, mandava ver nesse tema na prática e faltava alguns shows, fazendo crescer ao seu redor essa fama de Será que ele vem? rsrsrs Esse era o folclórico Tim!!!

Zeca Pagodinho, ao interpretar Maneiras, deixou seu parecer: "...eu pago tudo o que consumo com o suor do meu emprego..." O que falar de Luiz Gonzaga que sempre presenteou os trabalhadores mais regionalistas como boiadeiros e agricultores com seus clássicos? "Vai boiadeiro que a noite já vem, guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem..."

Eu poderia citar muitas outras passagens dessa nossa música brasileira ressaltando esse dia comemorado hoje por todos os profissionais que dão seu amor à sua profissão e, muitas vezes em condições salariais e estruturais não favoráveis, vivem de fé nesse país de Deus! Ficamos com a letra de Amor de índio, do Beto Guedes, já interpretada por grandes nomes como Roupa Nova, Djavan, Milton Nascimento, Simone e pelo próprio Beto, que reflete algo maravilhoso dessa data em sua poesia quando diz: "Todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que sagrado..."

Amor de índio
(Beto Guedes e Ronaldo Bastos)

Tudo que move é sagrado
e remove as montanhas com todo o cuidado, meu amor.
Enquanto a chama arder todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado com arco da promessa do azul pintado, pra durar.

Abelha fazendo o mel vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu, o pedido que se pensou
O destino que se cumpriu de sentir seu calor e ser todo
Todo dia é de viver para ser o que for e ser tudo

Sim, todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor.
A massa que faz o pão vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
e alimenta de horizontes o tempo acordado, de viver.

No inverno te proteger, no verão sair pra pescar
no outono te conheçer, primavera poder gostar
no estio me derreter pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu de sentir seu calor e ser tudo.

Um forte abraço a todos!

terça-feira, 29 de abril de 2008

As canções que você fez pra mim

No mês dedicado ao aniverário do rei, nada mais apropriado que falar sobre esse disco em sua homenagem, talvez o melhor dessa safra, lançado por Maria Bethânia em 1993 - As canções que você fez pra mim.

Gravado em Los Angeles e Londres, produzido por Guto Graça Mello e tendo músicos como Jurim Moreira na bateria, João Carlos Assis Brasil no piano e Pedro Ivo no baixo o disco conta com arranjos de Jaime Alem, maestro de Bethânia e com a Orquestra de Cordas Inglesa sob a regência de Graham Preskett.

Gravar um disco com o repertório do rei da música brasileira não é tarefa fácil, sobretudo porque seu trabalho não deixa "espaços", é tudo muito completo e Bethânia sabia disso, tanto é que a inclusão da orquestra inglesa foi proposital, sobretudo porque o maestro Graham Preskett conhece pouco a obra do Roberto, daí dava pra ter uma concepção bem original, sem influência da arte real.

O disco obteve uma vendagem muito expressiva. Com mais de um milhão de cópias, foi versionado para o espanhol com Las canciones que hiciste para mí. É um disco muito lindo, reconhecido recentemente pelo rei, mais uma vez, em uma entrevista dada na Argentina. Arranjos e interpretações ímpares de Bethânia para clássicos do Roberto como Detalhes, Olha, Fera ferida e Emoções, e canções meio esquecidas de seu repertório como Você não sabe e Palavras. O disco também traz Seu corpo, Costumes, Você e Eu preciso de você. Emplacou dois hits em novelas globais: Fera ferida e Você.

A relação entre a abelha rainha e o rei da música brasileira não é recente. Bethânia foi a primeira a participar de um dueto em disco com Roberto na faixa Amiga em 1982, além de participar de seus especiais da Globo em 1979, 1981, 1982 e 1993. Alheia ao rótulo de que foi "um apelo popular" fazer esse trabalho, Bethânia continua gravando Roberto. Já emprestou sua inconfudível voz para As flores do jardim da nossa casa, Nossa canção, Outra vez, entre outros, sempre com todo o profissionalismo de uma grande intérprete e a dedicação de uma grande fã declarada do rei! Em seu atual show com a cantora cubana Omara Portuondo canta Você não sabe, desse mesmo disco.

Estamos diante de um trabalho majestoso. Um disco requintado com uma interpretação majestosa da abelha rainha e com o repertório do rei da música brasileira. Sem dúvida, um trabalho que tem todas as coisas que um dia sonhamos para nós...

Um forte abraço a todos!

domingo, 27 de abril de 2008

Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver...

O poeta modernista, o compositor, um dos criadores da Bossa nova, jornalista, diplomata Marcus Vinicius da Cruz de Melo Moraes. O "poetinha" se notabilizou por seus sonetos. Quem resiste ao Soneto da fidelidade? "De tudo, meu amor serei atento...Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure".

Vinícius escreveu talvez a peça teatral mais famosa do Brasil: Orfeu da Conceição, com cenário de Oscar Niemeyer e o piano de um jovem que se tornaria seu mais famoso parceiro, Tom Jobim, em 1956. Desta parceria, nasceram alguns dos clássicos mais lindos da música brasileira: Garota de Ipanema, Eu sei que vou te amar, Se todos fossem iguais a você, A felicidade, Água de beber, Eu não existo sem você, Chega de saudade, Insensatez, Ela é carioca, Pela luz dos olhos teus, entre outras. Sem falar que foi dessa parceria e da batida de violão de outro grande nome, João Gilberto, que encontramos a gênesis da Bossa nova.

Da mesma forma como se casava, Vinícius alternava com vários compositores, obtendo parcerias com Chico Buarque, Adoniran Barbosa, Francis Hime, Edu Lobo, Carlos Lyra, Ary Barroso, Pixinguinha, Baden Powell e Toquinho, entre compositores famosos e anônimos, todos tinham chance de dividir composições com ele. Desses encontros surgiram outros clássicos da música brasileira como Apelo, Minha namorada, Onde anda você, Samba de orly, Gente humilde, Arrastão, Tarde em Itapoã, Aquarela, grande parte delas em parceria com Toquinho com quem realizou sua mais longa parceria, lhe rendendo muitos discos e shows, no Brasil e exterior.

Em 2005 foi lançado o documentário Vinícius, abrangendo toda biografia do poeta, vida pessoal, parceiros e participações de amigos como Caetano Veloso , Chico Buarque, Carlinhos Lyra, Edu Lobo, Francis Hime, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Toquinho, entre outros sob a direção de Miguel Faria Jr. e com Cristinha Morgado e Ricardo Blat recitando algumas obras poéticas. "Quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores?" Tudo isso para mostrar que Vinícius continua entre nós, sempre ensinando com sua poesia e sua beleza melódica que sempre apreciaremos por toda nossa vida...

Se todos fossem iguais a você
Tom Jobim e Vinícius de Moraes

Vai tua vida
Teu caminho é de paz e amor
A tua vida
É uma linda canção de amor

Abre os teus braços e canta
A última esperança
A esperança divina
De amar em paz

Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver

Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar, a sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar

Como o sol, como a flor, como a luz
Amar sem mentir, nem sofrer

Existiria a verdade
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você

Um forte abraço a todos!

sábado, 26 de abril de 2008

O tempo se rói com inveja de mim...

Dinair Tostes Caymmi , nossa Nana Caymmi tem música na alma literalmente, porque após seu nascimento, já era canção na composição Acalanto de seu pai, aquele velhinho "desconhecido" da Bahia chamado Dorival que fez essa pérola para ninar sua filha!

Poucos sabem que sua primeira gravação foi justamente Acalanto ao lado de seu pai; que morou na Venezuela durante seu primeiro casamento e que se casou depois com Gilberto Gil, nos anos 60, casamento que durou pouco tempo. Também foi uma das fundadoras do projeto Pinxiguinha ao lado de Ivan Lins.

Mas, muitos reconhecem o enorme talento que Nana tem em suas interpretações e suas ligações familiares ao pai e aos irmãos Dori e Danilo. Esse encontro familiar é sempre constante e majestoso como aconteceu em 1991 num show que reunia Tom e Dorival, além de Danilo ou em 2002 quando lançou o CD "O mar e o tempo", contendo exclusivamente obras de Dorival Caymmi e contou com a participação de seus irmãos Dori e Danilo, além de sua mãe, Stella, das netas e das sobrinhas. Em 2004, comemorando o 90º aniversário do pai, lançou, com os irmãos Dori e Danilo, o CD "Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo", novamente contendo exclusivamente canções de Dorival Caymmi com arranjos assinados por Dori Caymmi.

Temos uma grande intérprete que navega na praia de muitos compositores que vão desde Milton Nascimento a Gonzaguinha, de Ivan Lins a Tom Jobim, trabalhando com músicos requintados e requisitados como os maestros Cristóvão Bastos ou Wagner Tiso, formando sucessos como Suave veneno, Estrada do sol, Caís, Não se esqueça de mim, Fascinação, Resposta ao tempo, Acalanto, Só louco, Até pensei, Brisa do mar, Carinhoso, A noite do meu bem, Nem eu, Olhe o tempo passando, Solamente una vez, Você não sabe amar, entre outros.

Nana sempre foi festejada pela sofisticação de suas interpretações. Nos anos 90 chegou à lista dos mais vendidos, dedicando-se ao repertório de músicas românticas e boleros, sendo "A Noite do Meu Bem" (1994) e "Resposta ao Tempo" (1998) dois de seus discos mais vendidos. A faixa "Resposta ao Tempo" (Cristóvão Bastos/Aldir Blanc) foi incluída com êxito na minissérie "Hilda Furacão", da TV Globo. Inclusive, por tantas canções em novelas globais, já lançou um projeto reunindo todos esses trabalhos em "Os maiores sucessos de novela de Nana Caymmi".

É mais uma grande intérprete pela qual a música brasileira pode se orgulhar e agradecer sua existência e brilhantismo!

Um forte abraço a todos!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Um boiadeiro errante...

Sérgio Bavine, mais conhecido com Sérgio Reis ou simplesmente Serjão é, talvez o maior nome da música sertaneja do Brasil. Compreendo que o preconceito à esse estilo é imenso e isso é um fato curioso, porque estamos tratando de um país, tipicamente sertanejo, com uma identidade sertaneja. Mas, alheio a tudo isso está o sucesso desse grande astro, talvez o mais alto da música brasileira, em se tratando de estatura.

Sérgio fez parte do movimento Jovem Guarda e ali reside seu primeiro sucesso: Coração de papel, embora já houvesse gravado anteriormente, foi com essa que se tornou conhecido nacionalmente. E, justamente uma das correntes desse movimento é iniciada por ele nos anos 70, quando gravou outro grande sucesso de sua carreira: Menino da porteira, voltando às suas origens e fortemente influenciado por Tonico e Tinoco. Também com Menino da Gaita, Sérgio fortalece o estilo caipira, incluindo novos sons, sem descaracterizar o sertanejo raiz.

Depois desses, surgem outros na mesma linha como Adeus Mariana, Panela Velha, Pinga ni mim, gerando o primeiro disco sertanejo a vender um milhão de cópias em 1981, com seus grandes sucessos até então! Sérgio é um intérprete versátil, pois além do sertanejo raiz, também passeia pelas praias românticas de Roberto Carlos, quando gravou um disco com canções interpretadas pelo rei, em 2001, ou forró de Luiz Gonzaga, que também tem como um de seus ídolos!

Em seu repertório destacam-se outras interpretações como A volta da asa branca, Assum preto, Calix Bento, Carga pesada, Cabocla Tereza, Boiadeiro, Chico Mineiro, Com muito amor e carinho, Todas as manhãs, Casinha branca, É disso que o velho gosta, Disparada, Galopeira, Nossa canção, Outra vez, Rei do gado, O tempo vai apagar, Romaria, Tocando em frente, Tristeza do Jeca e tantos outros sucessos, sempre num tom sertanejo gostoso de ouvir, com uma mescla de uma boa viola e a voz suave e afinada do Serjão!

Ficamos com a letra de Boiadeiro errante, um de seus clássicos e hinos da música sertaneja que nos remete aos bons climas e paisagens do interior desse país amado e cantado de diversas formas:

Boiadeiro errante
Teddy Vieira

Eu venho vindo de uma querência distante
Sou um boiadeiro errante que nasceu naquela serra
O meu cavalo corre mais que o pensamento
Ele vem no passo lento porque ninguém me espera

Tocando a boiada auê-uê-uê-ê boi
Eu vou cortando estrada uê boi
Tocando a boiada auê-uê-uê-ê boi
Eu vou cortando estrada

Toque o berrante com capricho Zé Vicente
Mostre para essa gente o clarim das alterosas
Pegue no laço não se entregue companheiro
Chame o cachorro campeiro que essa rez é perigosa

Olhe na janela auê uê uê ê boi
Que linda donzela uê boi
Olhe na janela auê uê uê ê boi
Que linda donzela

Sou boiadeiro minha gente o que é que há
Deixe o meu gado passar vou cumprir com a minha sina
Lá na baixada quero ouvir a siriema
Prá lembrar de uma pequena que eu deixei lá em Minas

Ela é culpada auê uê uê ê boi
De eu viver nas estradas uê boi
Ela é culpada auê uê uê ê boi
De eu viver nas estradas

O rio tá calmo e a boiada vai nadando
Veja aquele boi berrando Chico Bento corre lá
Lace o mestiço salve êle das piranhas
Tire o gado da campana pra’ viagem continuar

Com destino a Goiás auê uê uê ê boi
Deixei Minas Gerais uê boi
Com destino a Goiás auê uê uê ê boi
Deixei Minas Gerais uê boi

Um forte abraço a todos!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Fagner é Demais...

Fagner é demais, que intérprete, que voz! Em 1993, deixou sua veia artística à flor da pele ao interpretar canções que ainda não havia gravado, num projeto que já acalentava há anos. Canções que já há muitos anos mereciam uma releitura para o conhecimento das novas gerações. Foram vinte meses de preparo até que o disco Demais fosse lançado em maio de 1993.

Com produção de Roberto Menescal, o disco revive alguns boleros, temas de bossa nova e clássicos da música brasileira. Eu sei que vou te amar de Tom e Vinícius ficou divina na voz do cearense mais amado do país. Em seguida, temos Minha namorada, clássico de Carlinhos Lyra e novamente Vinícius, a quem Fagner dedica o trabalho. Uma interpretação sublime é dada a Manhã de Carnaval, uma mescla de suavidade e a voz grave do Fagner para nosso deleite. Nunca e Alguém como tu vem na sequência, assim como Ronda para representar os boleros e o lado seresteiro do intérprete. O mesmo pode ser dito para Da cor do pecado, Gente humilde e Brigas, tema que o fez relembrar o grande seresteiro Altemar Dutra, com quem Fagner já gravou no passado. João Valentão leva o cearense a navegar nas praias baianas de Caymmi. Novamente com Tom na faixa Dindi, é de arrepiar a interpretação. O disco ainda traz Folha morta, apenas no cd, Vingança e se encerra com Demais, faixa título do projeto.

No ano em que a Bossa nova completa 50 anos, nada mais legal que comentarmos esse projeto mais recente, também homengem a esse movimento e dos melhores discos do Fagner. O que falar de canções tão bem produzidas e agradáveis aos nossos ouvidos em sua interpretação? E um repertório de arrepiar qualquer amante da boa música brasileira, mostra o bom gosto desse cearense que sempre cativou seu público com seus maravilhosos lançamentos! Sem falar que tais sucessos acabam nos remetendo a outros intérpretes do passado para determinadas músicas como o caso de Brigas, já comentado ou Gente humilde (Ângela Maria), ou qualquer um desses boleros, já interpretados por tantos seresteiros Brasil afora. Infelizmente, nos dias de hoje, a Seresta é algo muito raro. Aqui no Recife ainda temos um momento saudoso desses que conto em breve!

Um forte abraço a todos!

domingo, 20 de abril de 2008

É um rio que passa em nossa vida...

Ah, coração leviano, aquele que nunca curtiu ao menos um sambinha sofisticado de Paulinho da Viola. Paulo César Batista de Faria é filho de violonista e a influência do pai o fez aprender uma levada única ao violão para apresentar seus sambas, quase todos inspirados em sua escola de samba Portela, uma paixão em sua vida.

Ao longo de toda sua carreira tornou-se um dos maiores representantes do samba e herdeiro do legado de músicos como Cartola, Candeia e Nelson Cavaquinho, sempre se renovando e produzindo sem abandonar seus princípios e valores estéticos e, com isso deixando marcado no inconsciente popular canções como Coração leviano, Acontece, As rosas não falam, Bebadosamba, Foi um rio que passou em minha vida, Pecado capital, Sinal fechado, Nervos de aço, Eu canto samba, etc.

Dois grandes trabalhos destacáveis do Paulinho são os álbuns Bebadosamba de 1997, que redeu um grande show com o mesmo nome e o Acústico mtv em 2007, que atualmente divulga em show. Paulinho tornou-se uma nobreza do samba, uma excelência na música brasileira, sobretudo por sua simplicidade e sofisticação ao apresentar seus sambas com sua batida violão e deixar marcado na música brasileira um rio de emoção e sofisticação! Ficamos com a letra de Foi um rio que passou em minha vida, samba atual de 1970:

Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida
Paulinho da Viola

Se um dia meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar

Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou

Só um amor pode apagar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar

Porém, ai porém
Há um caso diferente
Que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de Carnaval

Eu carregava uma tristeza
Não pensava em novo amor
Quando alguém que não me
Lembro anunciou
Portela, Portela...

O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou
Ah, minha Portela!
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado

Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar

Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar...

Um forte abraço a todos!

sábado, 19 de abril de 2008

Sinônimo de felicidade...

Hoje é aniversário do rei e esse blog presta uma singela homenagem extrapolando o lado fã em homenagem ao maior artista da música brasileira de todos os tempos, afinal o Roberto é o grande culpado da existência desse espaço. Embora esteja sempre destacando outros artistas maravilhosos e que contribuem com a nossa melhor música do mundo, a brasileira, sempre busco em todos, um pouco do Roberto. Ele é simplesmente Brasil...

Ouvir Roberto Carlos é sinônimo de felicidade. Sempre que ligamos o som e, algum de seus sucessos toca, o ambiente toma uma forma diferenciada. É algo virtual, porém verdadeiro. Exemplificando essa prosopopéia, é como se o ar, as paredes, os móveis, tudo sorrissem e cantassem juntos, navegando em melodias de amor e de paz que todo seu repertório apresenta. É como diz a canção Tudo pára – 1981, que cita várias cenas: “...Pelas frestas da janela, se derrama pela rua e provoca inexplicáveis emoções...O mar se faz mais calmo por nós dois...” Falando nisso, temos em um dos trechos de um clássico do rei uma das mais perfeitas prosopopéias da música brasileira: “A capa pendurada, assistia a tudo e não dizia nada...” (Os seus botões - 1976). A prosopopéia é uma figura de linguagem da língua portuguesa que atribue características pessoais a seres inanimados. Outro exemplo de figura de linguagem, encontramos em “Você foi a melhor coisa que eu tive, mas o pior também em minha vida...” (Você em minha vida – 1976), uma perfeita antítese. Antítese, figura de linguagem que aproxima características inversas. Sou formado em matemática, porém lembro dessas observações das aulas de português que o professor apresentava e muito me animava ver uma interação entre rei e a educação. Isso porque, às vezes eu queria que a história destacasse mais o Roberto como artista, depois cheguei a conclusão que o rei já é a história desse país há quase meio século.

Lembrar que aprendi melhor espanhol nas canções que o rei gravava, se intensificando no disco Canciones que amo – 1997. Nas Igrejas Católicas de todo país, sempre escutamos Nossa Senhora – 1993 ou Jesus Cristo – 1970 ou as demais mensagens abordadas, sobretudo, após o disco Paz ao vivo - 2000 do Padre Marcelo Rossi e também algumas regravações do Padre Antônio Maria. Algumas das principais rádios, principalmente no interior do Brasil, possuem programas especiais com, pelo menos uma hora só com Roberto Carlos. Aos domingos, às 19:00 é concorrência total, é Roberto na antiga ou recente vitrola.

Em minha casa, em sua casa, nas escolas, na Igreja, nas rádios, nas praças, nos sites, blogs, em todo bom lugar se toca Roberto Carlos e o ambiente se torna algo próximo da perfeição. “Se eleva pelos ares, toma conta da cidade e felicidade é tudo que se vê” ou ainda “ Pára o bairro e a cidade, nessa hora tão feliz e é tanto amor que pára até o país (Tudo pára – 1981). Realmente, tudo pára pra sentir esse momento de felicidade que é ouvir e viajar nas canções do rei Roberto Carlos.

Feliz Aniversário rei, esteja sempre em paz, com saúde e com esse imenso amor que penetra em nosso coração! Parabéns para todos os fãs, parabéns Brasil por um artista como esse!

Um forte abraço a todos!